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Julia Child & Maïté Ordonez
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Julia Child & Maïté Ordonez
Dois ícones dos primeiros programas de culinária da televisão. A primeira nos EUA cujo programa era denominado The french chef e a segunda na França com seu Cuisine des mousquetaires. Uma particularidade em comum às duas damas é remarcavel : o jeito rústico de comandar seus respectivos pianos. Tão rústico que muitas passagens e falas naquelas emissões televisivas chegam a ser hilariantes.
Julia voltou à memória do público por meio do filme Julie & Julia - 2009 , interpretada por Maryl Streep.
Julia voltou à memória do público por meio do filme Julie & Julia - 2009 , interpretada por Maryl Streep.
Maïté, duas décadas mais jovem que Julia, não teve (ainda) um filme em honra a sua história culinária na tv. Por outro lado, ainda se lhe pode prestigiar a boa cozinha no sudoeste da França em seu restaurante chamado Chez Maïté(1) , o que é muito melhor que ir ao cinema.
Comparar as duas damas e seus respectivos programas de tv nos dá uma visão de como a culinária é percebida (ou foi) na sociedade francesa e norteamericana. E também como ela poder ser apaixonante.
Mesmo Julia Child tendo conhecido a cozinha francesa, vendo seus programas de culinária e o livro escrito com a pretensão de revelar à América as receitas francesas, restam controvérsias sobre o que foi transmitido com fidelidade e o que foi modificado pela cozinheira-escritora.
Maïté é, sem dúvida, melhor representante que Julia da tradicional cozinha francesa, principalmente aquela do sudoeste da França, conhecida por ser a região onde melhor se come no país. Ela pode ser considerada, contudo, um pouco ultrapassada, no sentido de não respeitar as recomendações minimas de diminuição de gordura e sal nos alimentos... em tudo ela acrescenta um bocado de vantrèche (=rocambole de bacon).
Não se nega o fato de que Julia, tendo morado em Paris durante anos e cursado a Cordon Bleu era, enfim, uma gourmande, conhecedora e apreciadora da gastronomia na Paris dos anos 50. Mas dai a ser considerada a reveladora das técnicas da cozinha francesa para a América existe um abismo.
O famoso exemplo do exagero daquela titulação é seu Bœuf Bourguignon, descrito por ela em seu livro de receitas e ainda mais conhecido por causa do filme. Fritar a carne antes de colocar o vinho deixa um excesso de originalidade americana no ar.
O vinho serve, naquela clássica receita francesa, justamente para marinar a carne na véspera de assar. Ora, marinar e assar são técnicas bem diferentes da fritura com que os norte-americanos estão habituados, alias até hoje para eles é assim.
Atualmente (e depois do filme), na Escola Cordon Bleu de Paris, há cursos destinados à amadores, inclusive um dedicado à descoberta das receitas de Julia Child. Mas quando, na década de 50, só havia cursos profissionalisantes, dificilmente alguém seria aceito enquanto aluno naquela Escola desconhecendo os três cortes básicos de uma cebola.
Evidente que sua tenacidade (e talvez o argumento metaculinário de ter um marido membro da diplimacia americana em Paris) acabaram por fazer de Julia Child uma aluna da Cordon Bleu. Isso não evitou contudo que ela tivesse problemas de aceitação e integração, causados tanto pela direção da escola quanto pelos outros alunos.
Bem verdade que essa discrimação velada contra mulheres à frente de grandes cozinhas ainda é coisa sentida. Persiste até os dias de hoje o fato de que a profissão de chef de cozinha na França é predominantemente ocupada por homens. Some-se o fato de que apenas quatro mulheres foram condecoradas com medalhas do guia Michelin em toda a França; a primeira somente 50 anos depois da criação deste título. Julia teve seus méritos.
Mas enfim, a recomposição da estória de Julia Child no filme ficou aquém das expectativas. Sua biografia é bem mais interessante do que o filme mostrou. Apesar da excelente interpretação de Maryl Streep, acaba-se por fazer de Julie Powell, a moça do blog, a verdadeira personagem principal.
Mesmo assim, valeu a dica cinamatográfica da minha amiga Simone, pois o filme pôde me dar o prazer de comentar o assunto.
____________________________Comparar as duas damas e seus respectivos programas de tv nos dá uma visão de como a culinária é percebida (ou foi) na sociedade francesa e norteamericana. E também como ela poder ser apaixonante.
Mesmo Julia Child tendo conhecido a cozinha francesa, vendo seus programas de culinária e o livro escrito com a pretensão de revelar à América as receitas francesas, restam controvérsias sobre o que foi transmitido com fidelidade e o que foi modificado pela cozinheira-escritora.
Maïté é, sem dúvida, melhor representante que Julia da tradicional cozinha francesa, principalmente aquela do sudoeste da França, conhecida por ser a região onde melhor se come no país. Ela pode ser considerada, contudo, um pouco ultrapassada, no sentido de não respeitar as recomendações minimas de diminuição de gordura e sal nos alimentos... em tudo ela acrescenta um bocado de vantrèche (=rocambole de bacon).
Não se nega o fato de que Julia, tendo morado em Paris durante anos e cursado a Cordon Bleu era, enfim, uma gourmande, conhecedora e apreciadora da gastronomia na Paris dos anos 50. Mas dai a ser considerada a reveladora das técnicas da cozinha francesa para a América existe um abismo.
O famoso exemplo do exagero daquela titulação é seu Bœuf Bourguignon, descrito por ela em seu livro de receitas e ainda mais conhecido por causa do filme. Fritar a carne antes de colocar o vinho deixa um excesso de originalidade americana no ar.
O vinho serve, naquela clássica receita francesa, justamente para marinar a carne na véspera de assar. Ora, marinar e assar são técnicas bem diferentes da fritura com que os norte-americanos estão habituados, alias até hoje para eles é assim.
Atualmente (e depois do filme), na Escola Cordon Bleu de Paris, há cursos destinados à amadores, inclusive um dedicado à descoberta das receitas de Julia Child. Mas quando, na década de 50, só havia cursos profissionalisantes, dificilmente alguém seria aceito enquanto aluno naquela Escola desconhecendo os três cortes básicos de uma cebola.
Evidente que sua tenacidade (e talvez o argumento metaculinário de ter um marido membro da diplimacia americana em Paris) acabaram por fazer de Julia Child uma aluna da Cordon Bleu. Isso não evitou contudo que ela tivesse problemas de aceitação e integração, causados tanto pela direção da escola quanto pelos outros alunos.
Bem verdade que essa discrimação velada contra mulheres à frente de grandes cozinhas ainda é coisa sentida. Persiste até os dias de hoje o fato de que a profissão de chef de cozinha na França é predominantemente ocupada por homens. Some-se o fato de que apenas quatro mulheres foram condecoradas com medalhas do guia Michelin em toda a França; a primeira somente 50 anos depois da criação deste título. Julia teve seus méritos.
Mas enfim, a recomposição da estória de Julia Child no filme ficou aquém das expectativas. Sua biografia é bem mais interessante do que o filme mostrou. Apesar da excelente interpretação de Maryl Streep, acaba-se por fazer de Julie Powell, a moça do blog, a verdadeira personagem principal.
Mesmo assim, valeu a dica cinamatográfica da minha amiga Simone, pois o filme pôde me dar o prazer de comentar o assunto.
1 http://www.chez-maite.com/
Última edição por Denise Teixeira Oliveira em Qui 12 maio - 6:38, editado 2 vez(es)
Re: Julia Child & Maïté Ordonez
Eu assisti ao filme Julia e Julie e achei muito legal.
Eu nunca vi o livro de receitas dela, que se chama "Mastering the Art of French Cooking", mas eu tenho certeza que, no filme, qdo Julia Powell vai cozinhar a homard, ela deveria ter tirado a borracha que prende as patas do bicho....ahahahahaha
Eu nunca vi o livro de receitas dela, que se chama "Mastering the Art of French Cooking", mas eu tenho certeza que, no filme, qdo Julia Powell vai cozinhar a homard, ela deveria ter tirado a borracha que prende as patas do bicho....ahahahahaha
Jocelyne Marmion- Mensagens : 12
Data de inscrição : 02/03/2011
Re: Julia Child & Maïté Ordonez
Apenas para dar uma idéia: um curso para aluno amador na Cordon Bleu custa 17.900 euros. Considerando que não se aluga uma kitchenet em Paris por menos de mil euros e que se tem que fazer uma refeição por dia pra viver, um curso desses de 12 meses não é acessivel por menos de... afe, nem vou fazer as contas.
Re: Julia Child & Maïté Ordonez
O erro da borracha que prende as patas do "homard" é muito engraçado, Jocelyne. Mas tem também aquele do "moelleux". Não sei se vc reparou, mas ela come um "moelleux" q estica como se fosse mozzarela quente... lol
Entende-se melhor pq J.Child tb ñ gostou do blog de J.Powell
Entende-se melhor pq J.Child tb ñ gostou do blog de J.Powell
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