Julia e Maïté e os programas na tv

Os programas de culinária na televisão mudaram bastante desde Maïté Ordonez e Julia Child. Não utilisamos mais a manteiga e o rocambole de bacon (vantrèche) como um ingrediente banal, pois hoje vemos com mais consciência o acréscimo de gorduras nas comidas.

Já não se mostram na televisão partes de animais como cérebro e rins com tanto prazer, tal qual o faziam Maïté e Julia, apesar de existir hoje na França uma tendência de voltar a esses ingredientes, numa tentativa de « deselitizar » a culinária.

Para além dessas preferências de ingredientes há uma mudança muito interessante em matéria de programas de culinária na tv. Ela diz respeito à forma de tratar os animais destinados à consumação diante dos telespectadores.

É que ambas as senhoras acima citadas traziam os animais vivos para a frente das câmeras e os matavam ali, diante dos nossos olhos, com marretas de madeira ou grandes facas de açogueiro.

Não veríamos na tv hoje em dia, as cenas que ficaram famosas nos videos em que Maïté mata uma enguia(1) e noutro um lagosta(2) e que, para tanto, trava uma acirrada discussão ética com sua assistente Micheline.



Outras vezes esses programas de tv apresentavam os animais de uma maneira que hoje poderia ser considerada ridicularizante. Foi o caso quando Julie Child apresentou uma sequência de sete frangos depenados e decapitados, sentados lado-a-lado sobre a mesa. Ela os apresenta como « as irmãs galinhas » dando um nome a cada uma. (3)


Naquela época isso não era mal visto nem censurado. Mais tarde, vozes de sociedades protetoras de animais se levantavam contra aqueles gestos predadores e grotescos. Passou a ser necessário tratar com mais respeito, os animais que iam nos alimentar.

Pensando ainda nessa comparação entre os antigos e os atuais programas de culinária na tv, lembrei-me que os programas brasileiros são comumente protagonizados por uma atriz/ator, não é necessariamente cozinheiro(a) de formação.

Aliás, muitas vezes não são nem um pouco cozinheiros esses tais protagonistas de programas de tv. Não passam de misturadores dos ingredientes que alguém, geralmente o(a) ajudante de cozinha, colocou a sua disposição sobre a mesa.

Os programas de culinária deveriam ser apresentados por verdadeiros cozinheiros(as), que se enventualmente tiverem ajudantes, que esses tivessem o espaço que merecem, interagindo com o chefe por meio do diálogo, tal qual exigido nas grandes cozinhas de restaurantes.

Jà é mais que tempo de pensar melhor essa bosta de tv aberta que temos no Brasil. Se pelo menos nesse campo fossemos capaz de copiar os franceses, teriamos divertimento melhor para assitir.