PAPOTAGE
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.
Últimos assuntos
» Celulite de ave?!?
Na cantina da Facultat de Dret I_icon_minitimeDom 1 Mar - 1:20 por Convidado

» O desaparecimento da Bala SOFT
Na cantina da Facultat de Dret I_icon_minitimeQui 19 Fev - 0:26 por DeniseTeixeiradeOliveira

» Café com leite = Arte em 3D
Na cantina da Facultat de Dret I_icon_minitimeDom 4 maio - 7:38 por DeniseTeixeiradeOliveira

» Intemporal Café Parisiense
Na cantina da Facultat de Dret I_icon_minitimeDom 4 maio - 7:09 por DeniseTeixeiradeOliveira

» Bela Helena: pra rir ou pra comer
Na cantina da Facultat de Dret I_icon_minitimeQui 30 maio - 4:40 por DeniseTeixeiradeOliveira

» A rainha Batata
Na cantina da Facultat de Dret I_icon_minitimeTer 28 maio - 0:12 por DeniseTeixeiradeOliveira

» ⇔ Ω6 Ω3 ⇒ câncer ∧ gordura ¬ → ∞
Na cantina da Facultat de Dret I_icon_minitimeTer 28 maio - 0:04 por DeniseTeixeiradeOliveira

» Excesso de sal leva a doença auto-imune
Na cantina da Facultat de Dret I_icon_minitimeQua 3 Abr - 21:18 por Convidado

» Outback's blooming onion: I got you!
Na cantina da Facultat de Dret I_icon_minitimeSeg 11 Mar - 10:14 por DeniseTeixeiradeOliveira


Na cantina da Facultat de Dret

Ir para baixo

Na cantina da Facultat de Dret Empty Na cantina da Facultat de Dret

Mensagem por DeniseTeixeiradeOliveira Sex 6 Jan - 10:11

Foi com esforço que escondi minha alegria ao receber do meu orientador a notícia de que eu estava, naquele ano, entre os alunos obrigados a passar um período de pesquisas na Faculdade de Direito de Barcelona. Entre minhas obrigações : - Ir à biblioteca todo dia e usar um pouco de criatividade para assistir a umas palestras úteis por lá, disse ele.

Nunca entendi a profundidade da segunda parte daquela frase. Também não fiz perguntas. Tendo feito meu percurso escolar em um país onde educação nunca foi prioridade do Governo, eu recebi aquela obrigação como se fosse um presente, e saí de fininho com a leve impressão de tê-lo roubado...

Minha maior preocupação era o que fazer com o tempo livre, depois da biblioteca. A preocupação era grande, pois em Barcelona tem muita coisa para fazer, há vida depois da meia-noite, e isso em todas as meias-noites da semana! Eu tinha que me apressar, tudo deveria ser cronometrado para que às 16h eu estivesse liberada.

Uma grande besteira minha de me apressar assim. O ritmo daquele povo é outro, bem diferente do corre-corre. Eu descobriria mais tarde que minhas pesquisas seriam mais produtivas se feitas calmamente, que encontraria prazer em almoçar tarde na cantina e que, enfim, seria muito bom desacelerar a vida de um modo geral, tomando o tempo para conhecer as pessoas do local, mais que o local em si.

Primeiro dia, 8 da manhã e eu de pé com a cara na porta. 9 horas, a biblioteca se abre: apresentação, registro, cartão, anotações, xerox e mais xerox. Meio-dia, como é regra, fome. Já começava então a arrumar minhas coisas num canto da biblioteca para que ninguém recolocasse os livros nas estantes, e eu ter que ir buscá-los. Dirigi-me à cantina pela primeira vez.

Não tinha absolutamente ninguém na redondeza, e eu até duvidei se era ali mesmo que se almoçava. Um garçon, vestido de garçon como num bar, acabava de chegar. Abriu a porta e disse alguma coisa do tipo você pode esperar lá dentro se quiser. Eu fui, e comecei a tentar decifrar o cardápio… da véspera. Ele apontou pra um enorme relógio na parede e me disse que não poderia me servir naquela hora e me recomendou pedir um café para esperar até 13h30.

Fiz uma cara de café ao meio-dia?!? , ao que ele me respondeu que ali ninguém almoçava com pressa, e re-explicou a coisa toda de antes, desta vez em inglês, para, penso eu, ter certeza de se fazer entender.

Sim, eu tinha entendido, e pensando vai lá que a coisa demora mesmo, acabei pedindo o café recomendado com mais um croissant. Recebi um café e dois donuts. Comi isso, e não vendo qualquer movimentação na cozinha, voltei pra biblioteca.

Quando voltei mais tarde à cantina, dirigi-me até a senhora do caixa e apresentei minha papelada para a inscrição temporária. Ela nem bem leu e perguntou o que eu ia comer, explicando os dois pratos do dia para eu escolher. Como se eu pudesse... Durante minha estada em Barcelona nunca consegui realmente ler um cardápio para poder escolher.

Eu disse, finalmente, que queria o segundo menu, mesmo sem saber do que se tratava. Paguei. Ela anotou num papelzinho e se meteu a conversar da vida dela. Eu expliquei constrangida que não entendia catalão. Ela se pôs a falar em francês. Expliquei com um constrangimento ainda maior que precisava que ela me devolvesse a folha que eu lhe tinha dado e que precisava também de um carimbo na dita folha, para entregar na escolaridade quando eu voltasse.

Ela não me deu, nem a folha, muito menos o carimbo. Também não me deu o recibo do que paguei pelo almoço. Eu não tinha a prova do que comprei, nem para receber o prato, nem para apresentar à universidade para reembolso das minhas despesas da viagem. Mas ela me contou a vida de todos os seus netos nesse dia. Fiquei ali, esperando que as coisas acontecessem, simplesmente.

13h30 horas e as pessoas desembarcaram todas de uma vez na cantina, professores e alunos. O vazio ficou pleno num piscar de olhos. Três professores se encostaram no balcão e o garçon lhes serviu três chopps, dois claros e um escuro pro baixinho. Tudo isso sem que nenhuma palavra fosse dita, ou melhor, sem o garçon interromper a discussão deles sobre a jurisprudência constitucional, uma coisa assim. Fascinante sincronia! (quando eu conto que tem chopp na cantina da faculdade, ninguém acredita).

O serviço começou e percebi então que na cantina da faculdade de Direito de Barcelona as pessoas são servidas à mesa, como em um restaurante, ou seja, não é um refeitório do tipo buffet-bandeijão como acontece nas outras faculdades. Daí que chegar antes da hora do serviço, não adianta nada, as mesas não estão postas. Ninguém chegou para servir à mesa.

Lá, pode-se escolher entre duas opções de menu do dia, com entrada, prato principal e sobremesa por 4€, mais caro que na França, onde se paga 2,85€, mas infinitamente melhor. Também é possível pedir outros pratos do cardápio que, eles, são um pouco mais caros.

Pequeno momento de stress naquela hora, pois nem por tradução aproximativa sabia o que eu tinha escolhido comer. A salada e o peixe chegaram e estavam muito bons. Não tenho a menor idéia de como o garçon sabia que era eu que tinha pedido aquilo; de toda forma se ele errasse, eu também não saberia.

Tudo acabou bem, e nos dias que se seguiram eu usei outra estratégia para a cantina. Dei-me uma pausa às 11h30 para um café com donuts (mesmo pedindo croissant, só consegui comer donuts), e só aparecia pra almoçar depois das 13h30.

Tentava ler o cardápio, escutava a explicação da senhora do caixa, tudo em vão. Já estava achando isso engraçado. Como não entendia nada mesmo, esperava que as outras pessoas começassem a pedir, e então dizia: - quero um igual aquele ali, por favor.

Comi muito bem todos os dias em que almocei na cantina. Cheguei a pensar que se todas as cantinas fossem assim tão boas, seria esta a razão pela qual não se via nenhuma pessoa gorda em Barcelona. E devia ser isso mesmo!

No último dia, a senhora do caixa me chamou pelo nome e perguntou se eu estava indo bem nos estudos. Pensando no que poderia lhe responder, algo me bloqueou. Foi a impressão de que ela me falava em castellano. E era. Ela tinha falado francês e catalão até aquele dia. Quando então, não sei por que razão, resolveu facilitar minha vida. Achei engraçado. Finalmente no meu último dia escolhi conscientemente o que ver no meu prato, e o recebi do mesmo garçon inglês, mas dessa vez falando em espanhol.

Em Barcelona é fácil se comunicar porque as pessoas são simpáticas e receptivas. Ninguém nos fala espanhol voluntariamente. Preferem fazem um esforço para falar na língua do interlocutor, e se não der, em inglês mesmo, que para eles é a língua de todos e qualquer um. Foi esta a impressão que eu tive, em todo caso, a experiência que eu vivi por ali.

Não demorei para entrar no ritmo deles. Mas não consegui explicar exatamente em que momento e sobretudo porque, eles passaram a me falar em espanhol. De toda forma, pareceu claro que eles sabiam que assim estariam facilitando minha vida, e eu agradeci.

Pena que quando eu já estava conseguindo fazer a pausa pro café às 12h, e esperar pra almoçar às 14h, já era hora de deixar Barcelona. Triste…
DeniseTeixeiradeOliveira
DeniseTeixeiradeOliveira
Admin

Mensagens : 143
Data de inscrição : 01/03/2011

https://papotage.forumeiros.com

Ir para o topo Ir para baixo

Ir para o topo


 
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos